Após 10 anos como parte da rede Swissnex, nossa CEO, Malin Borg, está deixando o cargo e retornando à Suíça. Sob sua liderança, a Swissnex no Brasil elevou seu perfil por meio de programas inovadores e parcerias de longo prazo para fortalecer a colaboração suíço-brasileira. Ao partir, ela deixa a organização nas mãos de sua vice, Bianca Campos, que atuará como CEO interina até que um novo CEO seja nomeado. Nesta entrevista, ela reflete sobre seu relacionamento único com o Brasil, os marcos de sua gestão e as perspectivas futuras da Swissnex.
Para começar, conte-nos um pouco sobre sua relação com o Brasil
Há mais de 14 anos, quando eu ainda era estudante, visitei o Brasil com dois amigos da universidade e me apaixonei pela beleza e diversidade do país. Mas o que mais me impressionou foram as pessoas: econômicas, resistentes e com um senso de hospitalidade que eu nunca tinha visto antes. Foi também nessa viagem que conheci meu futuro marido, o que, é claro, também me ajudou a formar um vínculo muito especial com o país.
Posteriormente, continuei retornando ao Brasil e, finalmente, por uma série de coincidências (ou seria serendipidade?), fui contratado por Gioia Deucher, ex-CEO da Swissnex no Brasil e em São Francisco, como o primeiro funcionário local da mais nova adição à rede: Swissnex in Brazil. Embora eu já tivesse alguma experiência no mundo das startups do Brasil, foi nessa função que descobri um Brasil desconhecido para o turista comum. Ainda era um período de crescimento e de grandes esperanças para o futuro do Brasil, exemplificado pela emblemática capa da revista The Economist. No entanto, o país estava apenas começando a investir seriamente na internacionalização com programas como o Ciência sem Fronteiras do governo federal. O Brasil ainda era um território desconhecido para muitos de nossos parceiros suíços.
Quais foram algumas das maiores diferenças entre seu primeiro e segundo “mandatos”?
Você passou três anos na Swissnex no Brasil, de 2013 a 2016, retornou à Suíça e tem dirigido a organização nos últimos dois anos e meio. Quais foram algumas das maiores diferenças entre seu primeiro e segundo “mandatos”?
Apesar de estarem relativamente próximas no tempo, as experiências foram extremamente diferentes.
Em um nível macro, meus primeiros anos no Brasil foram marcados pelos megaeventos festivos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, mas também pela crescente agitação social e politização da população, juntamente com o maior escândalo de corrupção da América Latina, a Lava-Jato. Quando retornei no final de 2021, não havia muito o que comemorar. O Brasil estava emergindo lentamente das consequências angustiantes da pandemia da COVID-19, e o extremismo político estava causando divisões até mesmo em famílias muito unidas.
Também me deparei com cenários diferentes em nossas áreas de atuação.
Enquanto nos primeiros anos havia uma espécie de “entusiasmo ingênuo” e disposição para o engajamento, as expectativas de nossos parceiros suíços, como startups que buscam entrar nos mercados brasileiros ou pesquisadores em busca de novas parcerias, eram maiores e mais exigentes. Além disso, a sustentabilidade ganhou um papel muito mais proeminente e está no centro de todas as discussões do que em 2013.
Quais são algumas das principais realizações das quais você mais se orgulha durante seu período como CEO da Swissnex no Brasil?
De acordo com as demandas que vimos surgindo de nossos contatos na Suíça e com as tendências que estávamos observando no Brasil, decidimos definir duas áreas de foco nas quais a Swissnex no Brasil desenvolveria um conhecimento aprofundado e programas dedicados. Em relação ao tema abrangente de toda a rede dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, decidimos nos concentrar no Futuro dos Alimentos e na Biodiversidade/Bioeconomia.
Sou incrivelmente grato pela adesão sincera da minha equipe a esses temas. Desenvolvemos programas sólidos como o Bootcamp Future of Food ou o nexBio Amazônia que, tenho certeza, terão um impacto duradouro em todas as partes envolvidas. Com esses tópicos, pudemos identificar áreas em que a Suíça e o Brasil são extremamente complementares no que estão procurando e no que podem oferecer. Isso também deu à Swissnex no Brasil um perfil mais claro, oferecendo oportunidades concretas de engajamento para nossos atores suíços.
Também estou muito orgulhosa das parcerias de alta qualidade que fortalecemos e estabelecemos nos últimos anos. A Swissnex depende de financiamento público e privado para realizar projetos, e o compromisso de nossos parceiros é demonstrado pelo fato de que conseguimos quase triplicar a receita de terceiros em comparação com o que tínhamos antes da pandemia. Isso nos permitiu pensar maior e, às vezes, dizer não a projetos de menor impacto. Além dos parceiros externos, a colaboração com a Equipe Suíça no Brasil também tem sido excelente, e estou confiante de que ela atingirá novos patamares com a aproximação da COP 30 em Belém.
Por último, mas não menos importante, tenho orgulho da equipe da Swissnex no Brasil, um grupo de suíços e brasileiros talentosos, criativos e motivados, em duas cidades diferentes, que trabalharam arduamente nos últimos dois anos e meio para conceber, planejar e executar os diversos programas em andamento.
Olhando para o futuro, onde você vê maior potencial para a colaboração suíço-brasileira?
Acredito que ainda há muito desconhecimento mútuo sobre as áreas de excelência nos dois países. As distâncias, tanto físicas quanto mentais, são grandes e só começarão a diminuir por meio de intercâmbios individuais, mente aberta e disposição para sair da zona de conforto.
Mais especificamente, a pesquisa e a tecnologia suíças podem ter um impacto extremamente ampliado em um país continental como o Brasil, com uma rica biodiversidade dentro e fora da floresta amazônica e um enorme potencial para soluções de energia renovável no Nordeste. Mas também, além do campo, há muito potencial. O PIB de São Paulo é maior do que o da Suécia. A cidade abriga um ecossistema vibrante de startups, com programas interessantes de inovação aberta por parte de várias empresas para as quais as startups suíças oferecem soluções promissoras.
Acredito que ainda há muito a ser feito para maximizar esse potencial. Para mim, o Brasil também é sinônimo de criatividade e de uma cena artística e de design movimentada que complementa a Suíça. Mas, para tudo isso, nossos parceiros suíços precisam estar dispostos a dar esse primeiro salto de fé e olhar para o Brasil!
Do que você mais sentirá falta no Brasil?
Todas as pequenas interações diárias com as pessoas! Nos 20 minutos que levo para ir da minha casa ao escritório, troco algumas palavras amigáveis com pelo menos quatro pessoas no caminho, enquanto que nas 1 ½ horas de trajeto que eu costumava fazer na Suíça, normalmente não falava com ninguém.
No ambiente de trabalho, sempre fiquei impressionado com a incrível abertura da minha equipe e dos nossos parceiros brasileiros para ideias que, às vezes, eram bem malucas. Não poderia ter pedido um país melhor para chamar de lar durante todos esses anos, e sou profundamente grato por todas as lições que aprendi e que posso levar comigo para a Suíça!
Como será o próximo período de transição para a Swissnex no Brasil?
Ao deixar a organização, minha vice e gerente do Programa de Inovação e Startup, Bianca Campos, assumirá minhas responsabilidades como CEO interinamente até que um novo CEO seja nomeado, provavelmente a partir de janeiro de 2025. Bianca é cientista de materiais, engenheira e especialista em inovação aberta, com experiência em empresas brasileiras e multinacionais em São Paulo. Ela está perfeitamente preparada para conduzir nossa experiente equipe nos próximos meses, onde veremos a realização de grandes projetos, como o programa piloto do nexBio Amazônia, a participação da equipe ETH BiodivX no XPRIZE Rainforest, o Infrastructure Forum, e a décima edição do Academia-Industry Training.
Mal posso esperar para acompanhar a jornada de longe. Obrigado a todos por seu apoio contínuo!