Expectativas e desafios para startups no Brasil em 2023

2023 promete ser um ano de muitas startups no Brasil, startups de diferentes nichos, mas com um ponto em comum: a vontade de entrar no mercado brasileiro.

Convidamos nossos Innovation & Startups Program Managers, Bianca Campos and Vincent Neumann, para contarem um pouquinho das expectativas e dos desafios neste novo ano.

1 - Qual é o maior desafio que as startups vão encontrar neste processo de entrada no mercado brasileiro?

Bianca: O Brasil é enorme e pode oferecer muitas oportunidades devido a suas proporções continentais. Uma expressão interessante define muito bem os desafios “Existem muitos Brasis dentro do Brasil”. O maior desafio é conhecer o Brasil e seu mercado diverso, compreender os clientes e os comportamentos e necessidades do país e identificar as sinergias com sua solução/negócio. Após este processo de aprendizado, você poderá apresentar sua solução de forma mais pragmática e direta. Os brasileiros estarão abertos a testes e parcerias com você para resolver seus desafios de inovação.

Vincent: Primeiramente, gostaria de salientar que o mercado brasileiro é incrivelmente receptivo a soluções tecnológicas estrangeiras, especialmente aquelas de origem suíça. Com a ajuda da Swissnex, encontrar os clientes e parceiros certos é feito com rapidez em comparação com outros países. O desafio está em priorizar e navegar pelos vastos atores da economia brasileira e avançar e manter a negociação ou conversa ao longo do tempo.

 

"Investimentos em startups aumentaram oito vezes em 2021 em comparação a 2018, e o Brasil começou 2022 com 21 unicórnios, dos quais 1/3 atingiu atingiu a valorização de US$ 1 bi em 2021"

2 - Qual o maior diferencial do Brasil para as startups suíças?

Bianca: O Brasil é um país em desenvolvimento que está ganhando maturidade em inovação e inovação aberta; os investimentos em startups aumentaram oito vezes em 2021 em comparação a 2018, e o Brasil começou 2022 com 21 unicórnios, dos quais 1/3 atingiu atingiu a valorização de US$ 1 bi em 2021. A abertura do setor empresarial também é um destaque; muitas empresas no Brasil têm áreas de inovação focadas na prospecção de tendências e no estabelecimento de parcerias com startups para projetos de inovação aberta. E o setor de corporate venture capital está crescendo e aberto para investir em startups internacionais que possam resolver os desafios da inovação no Brasil.

Vincent: Sem dúvida, a afinidade tecnológica, a diversidade e o tamanho da população do Brasil! Considerando isto, muitas startups suíças também se beneficiam da vantagem de ser a primeira a criar o movimento.

 

3 - Como você descreveria o ecossistema de inovação e startups no Brasil?

Bianca: O ecossistema de inovação e startup do Brasil vem evoluindo e ganhando cada vez mais visibilidade nos últimos anos. A presença de eventos relevantes como a WebSummit, que terá a primeira versão fora da Europa no Rio de Janeiro este ano, é a prova desse impulso. De acordo com um relatório recente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), 46% das startups brasileiras foram fundadas após 2020, e 52% estão agora na fase de tração ou escalabilidade (24,5% estão na fase de idealização ou validação). As áreas de destaque são as relacionadas ao digital, com destaque para a Fintechs, EdTechs e RetailTechs – o Brasil agora desenvolveu significativamente plataformas de mercado que começaram como startups (VTEx, por exemplo). As startups de Agri e FoodTech também estão no topo; em um país com mais de 25% do PIB proveniente da agricultura e pecuária, o objetivo de soluções sustentáveis que aumentam a produtividade e reduzem o desperdício é latente. Mais de 500 startups brasileiras estão trabalhando em soluções em Agri e FoodTech e em ecossistemas de inovação relevantes como AgTech Garage e FoodTech Hub Latam, conectando pesquisa, startups e o setor corporativo nestes campos.

Vincent: O ecossistema brasileiro de inovação e startup é altamente dinâmico e espontâneo e tem alto potencial de crescimento, mesmo com um 2022 turbulento que trouxe desafios para as startups brasileiras seguindo a tendência global. Embora 2021 tenha sido um ano recorde para investimentos de capital de risco e novos unicórnios, em 2022 o ecossistema de startups teve que ajustar suas estratégias à escassez de capital e ao declínio das avaliações. Entretanto, observamos inúmeros novos programas de startup, colaborações em pesquisa e eventos no Brasil pós-pandêmico, e as perspectivas para 2023 continuam a ser promissoras. Especialmente as empresas que contribuem para a agenda global de sustentabilidade devem agora olhar para o Brasil à medida que a área ganha impulso de um novo governo e de uma COP27. Seja clean tech, climate tech, food tech, agritech, ou qualquer negócio de impacto que esteja adicionando a uma bioeconomia sustentável e circular, o Brasil oferece uma gama de potencial de colaboração, novos programas e potencial de investimento para as startups tecnológicas suíças.

 

4 - Quais são os principais desafios que o Brasil precisa superar hoje para continuar como um ponto de interesse nesses campos?

Bianca: Com relação à Food Tech, o Brasil tem desafios tecnológicos e regulatórios fundamentais. Por exemplo, o cronograma de desenvolvimento de uma nova proteína alternativa é diferente de uma solução digital para a agricultura; são necessários investimentos e estrutura técnica, e há também um caminho regulatório a ser completado antes de entrar no mercado.

Nesse sentido, é essencial ter associações entre os setores público e privado, com partes brasileiras e internacionais interessadas como universidades, startups, corporações e o governo trabalhando juntos em iniciativas e projetos para proporcionar um futuro sustentável de alimentos.

Vincent: Em um ambiente internacional de incerteza, o Brasil terá que alavancar os movimentos do ano passado. As questões geopolíticas na Europa e na Ásia podem trazer novos capitais e empreendimentos para o Brasil em 2023, de modo que as políticas econômicas nacionais e internacionais precisam estar atentas às políticas econômicas federais. Além disso, a tendência do Corporate Venture Capital (CVC) deve se consolidar como um modelo de investimento em 2023 para oferecer alternativas estratégicas promissoras tanto para a indústria quanto para as startups. E por fim, as agendas social e ambiental devem ganhar ainda mais relevância no Brasil, o que pode impulsionar as startups alinhadas com esta agenda.