Entrevista com Malin Borg

Após 5 anos na Suíça, Malin Borg voltou para o Rio de Janeiro como CEO da Swissnex no Brasil. Leia a entrevista com ela para saber mais sobre sus experiencias e perspectivas para o futuro.

Após 5 anos na Suíça, Malin Borg está de volta ao Brasil para assumir a diretoria da Swissnex. Com escritórios no Rio de Janeiro e São Paulo e presente em outros países, a Swissnex é uma rede global para o desenvolvimento de projetos e programas nas áreas de Educação, Pesquisa e Inovação. Malin é formada em Relações Internacionais e mestre pelo The Graduate Institute, em Genebra. Conversamos com a nova CEO sobre sua história na rede Swissnex, expectativas de trabalho e potenciais de parceria entre Brasil e Suíça.

Você foi pioneira da Swissnex no Brasil em 2014, estruturando o início das atividades do escritório no Brasil. Após cinco anos na Suíça, como você sente este retorno ao Rio de Janeiro, à frente da organização?

É um momento muito especial para mim. Eu saí do Brasil logo depois das Olimpíadas e depois de um período muito agitado com eventos ligados aos mega eventos esportivos. Agora eu volto para um Brasil e Rio de Janeiro diferentes no meio da maior pandemia dos últimos 100 anos, mas também para uma Swissnex que amadureceu muito e que hoje oferece serviços mais diferenciados para os nossos parceiros na área acadêmica e para as startups suíças.

 

Nos últimos cinco anos, você ficou baseada em Berna como diretora da rede global Swissnex, que é uma iniciativa da Secretaria de Estado para Educação, Pesquisa e Inovação da Confederação Suíça. Que experiências você traz deste período de trabalho na sede?

Eu trago a experiência de ter acompanhado de perto todos os projetos dos cinco escritórios da Swissnex e os 20 conselheiros científicos no mundo. Existe uma diversidade e criatividade imensa nas iniciativas globais da nossa rede e há vários projetos que poderiam funcionar no Brasil também. Por exemplo, a Swissnex na Índia montou o India Industry Internships, que oferece oportunidades para estudantes suíços de engenharia dos Institutos Federais e Universidades suíças de Ciências Aplicadas para trabalhar na Índia em um estágio industrial de 3 meses nas áreas de mecatrônica, inteligência artificial e robótica, medtech e cleantech.  Por outro lado, também vi o que não funciona tão bem, o que pode nos poupar tempo e esforço. Acredito que precisamos dar mais foco estratégico ao nosso trabalho, o que significa que às vezes precisaremos rejeitar certas demandas.

Ademais, na minha última posição, uma tarefa importante foi a coordenação com os outros atores do governo suíço atuando no exterior, tal como o Departamento Federal de Relações Exteriores, Switzerland Global Enterprise, Switzerland Turism e Pro Helvetia. Avançamos bastante nessa colaboração sempre respeitando as missões diferentes de cada um dos atores. A Swissnex opera sob um modelo de negócios público-privado bastante singular e diferente das demais representações e eu estou muito animada de ver esse desenvolvimento em prática. O Brasil é um ótimo exemplo para esse “Team Switzerland”, pois todos esses atores estão presentes, o que manifesta a importância e o valor que a Suíça dá ao país.

 

Quais são suas expectativas e prioridades para o trabalho no Brasil nos próximos anos?

Pelo que observei durante os últimos anos na Suíça é que existe uma abertura para colaboração com o Brasil. As áreas de excelência do país ainda são pouco conhecidas e os obstáculos para iniciar projetos ainda são grandes. Nesse sentido, vejo que é fundamental o papel da Swissnex em identificar oportunidades e trazer essa inteligência para os nossos parceiros na Suíça. Essa função como um “think tank” vai ser cada vez mais importante no futuro da rede Swissnex e dessa forma desejamos catalisar o conhecimento dos pesquisadores, empreendedores, artistas e cientistas sobre o Brasil.

Há, por exemplo, um forte interesse da Suíça nas áreas relacionadas à biodiversidade no Brasil e a Swissnex consegue conectar pesquisadores com os centros de pesquisa mais relevantes nos dois países. Outro exemplo é na área da inovação. Através dos programas de internacionalização promovidos pela Innosuisse, a agência de inovação da Confederação Suíça, a Swissnex pode ajudar Startups suíças a entrar no mercado brasileiro. Principalmente nas áreas de tecnologia da saúde e TI existe um potencial muito forte. O mercado brasileiro é não somente exponencialmente maior do que o suíço, mas os consumidores brasileiros, ao contrário dos suíços, são “early adopters” curiosos em novas tecnologias, o que é um diferencial importantíssimo para as tecnologias high-tech que emergem da Suíça.

 

Quais são os principais projetos da Swissnex no Brasil?

Este ano tenho muito orgulho da equipe da Swissnex no Brasil que preparou o lançamento do Pantanal Science Camp em colaboração com o SESC. Essa iniciativa vai oferecer uma plataforma de acesso fácil para pesquisadores e estudantes suíços que desejam conduzir pesquisas na maior Reserva Particular de Patrimônio Natural do país.

Outro projeto legal é o Water for Amazon, onde a Swissnex atua em parceria com a Fiocruz para o desenvolvimento de uma solução sustentável de acesso à água para populações indígenas em áreas remotas através de tecnologia desenvolvida por uma startup suíça.

Além disso, existe um outro trabalho nos bastidores: a Suíça no momento ainda não está associada ao maior programa de pesquisa do mundo, o Horizon Europe. Para complementar os esforços de associação, estamos avaliando se a Swissnex pode ter um papel mais estratégico para apoiar a comunidade científica suíça na colaboração internacional mantendo a Suíça no topo dos rankings de excelência científica.

 

A Swissnex tem escritórios também nos Estados Unidos, Índia, China e Japão, além de conselheiros científicos baseados nas embaixadas suíças em outros países. Como esta rede atua de forma global?

A Swissnex começou há 20 anos atrás como uma iniciativa local e bottom-up em Boston, nos Estados Unidos. De lá para cá, a rede se ampliou e a identidade local de cada Swissnex sempre foi e continua sendo muito importante para sua atuação e oferta de serviços. Porém, nos últimos anos e também no contexto da pandemia, os movimentos de digitalização foram acelerados e vimos um tremendo crescimento do interesse em iniciativas globais que abrangem a rede inteira. Por exemplo, estamos estruturando um mandato com uma grande seguradora suíça que deseja executar um trabalho de inteligência de mercado e estudo de tendências em todas as localidades da Swissnex. Por esse motivo e para facilitar colaborações como essa, estamos alinhando nossa organização interna. Por exemplo, a Swissnex no Brasil ficará responsável por assuntos operacionais e de TI, atendendo toda a rede. Também há cada vez mais colaboração relacionada a projetos específicos, como os eventos organizados com a conselheira científica da Coreia do Sul sobre temas relacionados ao futuro da nossa alimentação.