A ONG Escolhares, criada na Suíça, realiza iniciativas em escolas públicas do Rio de Janeiro com voluntários suíços e brasileiros. Em agosto de 2019, Swissnex in Brazil sediou residência acadêmica de alunos de Medicina e Enfermagem do Laboratório de Neurofisiologia Investigativa da Universidade de Lausana (Unil). O grupo realizou exames e entregou óculos para crianças de escolas de áreas carentes da cidade.

Katia Steinfeld é uma estudante suíço-brasileira do 5º ano de medicina da Unil. Katia foi criada no Rio, onde iniciou seus estudos médicos antes de se mudar para Lausana em 2016. Atualmente está matriculada no programa de Md-PhD e está trabalhando em seu projeto de pesquisa de mestrado sobre o impacto cortical da miopia no Laboratório de Neurologia Investigativa – Unil. Com o apoio da Clinton Global Initiative University e do departamento de Relações Internacionais da Unil, ela criou e dirige o projeto Escolhares. Além disso, ela se envolveu em vários outros projetos de empreendedorismo social que concorreram no exterior. Katia conta mais sobre a iniciativa Escolhares nesta entrevista.

Tudo começou em 2015, entre estudantes de medicina brasileiros, como uma tese de bacharelado. Ao examinar 200 crianças em uma pequena escola primária, descobrimos que mais de 15% tinham problemas de visão não corrigidos. Chocados com o resultado, projetamos uma solução que pudesse levar oftalmologistas, óculos e informações para as escolas. Em 2016, mudei para a Suíça para continuar meus estudos e, graças ao apoio da Universidade de Lausana e da Clinton Global Initiative University, criei a Escolhares, uma associação de utilidade pública.

Desde que a ONG foi criada em 2017, 2.500 crianças de 4 a 12 anos foram examinadas. Destas, 600 apresentaram visão abaixo do normal quando examinadas por oftalmologistas em suas escolas. Cerca de 300 pares de óculos foram doados até o momento, incluindo correção para ametropias altas. Também fornecemos consultas externas e tratamento para 15 crianças com patologias mais complexas. Além disso, desenvolvemos um programa de prevenção primária que informa alunos, pais e professores sobre como cuidar da visão das crianças. Por último, demos treinamento a mais de 400 estudantes suíços e brasileiros de medicina e enfermagem para realizarem exames de visão em crianças.

O projeto é baseado no voluntariado. A maioria dos voluntários são estudantes de medicina na Suíça e no Brasil. Também temos pessoas de outras áreas nos ajudando em ambos os países, incluindo membros das comunidades escolares onde trabalhamos. Alguns deles se envolvem apenas para uma tarefa específica, outros preferem permanecer a bordo por muito tempo. Na Suíça, temos 70 membros e 10 diretores. Eles cuidam de todas as áreas financeiras, administrativas e também de pesquisa e desenvolvimento. No Brasil, cinco coordenadores são responsáveis ​​por recrutar voluntários e médicos e também planejar as ações com as escolas. Antes de cada ação, os coordenadores brasileiros treinam cerca de 70 estudantes de medicina e enfermagem para realizarem exames de visão em crianças. Esses voluntários treinados vão às escolas e examinam todas as crianças matriculadas. Os resultados são salvos em nosso aplicativo, vinculado ao nosso banco de dados, e identificamos as crianças que precisam de mais exames oftalmológicos. Em uma segunda etapa, clínicas móveis são instaladas nas escolas e os oftalmologistas realizam exames completos para as crianças selecionadas. Nessa etapa, os voluntários estudantes de medicina e enfermagem atuam como auxiliares dos médicos, montando os equipamentos, organizando a sala de espera, tratando dos dados, etc. Por fim, quando os óculos estão prontos, realizamos um evento para crianças, professores e pais nas escolas. É uma oportunidade de trazer informações sobre a visão das crianças e dar um reforço positivo para as crianças que estão adquirindo óculos pela primeira vez. Uma vez por ano, 10 estudantes suíços de medicina e enfermagem viajam ao Rio para se juntar aos nossos voluntários brasileiros no campo. Oferecemos a eles a oportunidade de prestar serviço de uma forma muito pragmática. O resultado de todo esse trabalho fica representado em um par de óculos e no sorriso da criança ao colocá-los pela primeira vez. Juntos, aprendemos a nos comunicar e a colaborar com pessoas de origens muito diversas. Acreditamos estar contribuindo para a formação de médicos com uma visão mais integral da saúde e seus determinantes. Se você gostaria de se juntar a nós para levar a visão para as crianças, entre em contato conosco!

Nosso objetivo é ir além da ação social e transformar a Escolhares em um laboratório de inovação social. Queremos gerar dados relevantes sobre a visão das crianças, publicando-os não apenas entre a comunidade científica, mas principalmente levando informações para escolas de ensino fundamental em todo o mundo. Ao induzir a troca de conhecimentos entre o meio acadêmico e o ensino fundamental, podemos projetar soluções mais eficientes, construídas principalmente para as pessoas que atendemos. Estamos agora dando nosso primeiro passo nessa direção. Gostaríamos de entender melhor o impacto que nosso projeto tem nas comunidades. Como evolui o estado da saúde oftalmológica nas escolas que acompanhamos há dois anos? O que pais, professores e alunos estão aprendendo sobre cuidados com a visão por meio do nosso projeto? Para as crianças que damos óculos, e assim melhoramos a visão, como isso afeta seu desenvolvimento geral? Para montar um projeto de pesquisa, estamos colaborando com instituições suíças e brasileiras que são especialistas nestes diferentes departamentos. Coletaremos os dados de 2020 em diante, enquanto fornecemos atendimento oftalmológico a 3.000 crianças em 5 escolas públicas do Rio.