
– Por Kenza Lavallard Fadlane, estudante na Universidade de St. Gallen em Assuntos Internacionais e Governança
Este programa, que reuniu especialistas da academia, da bioeconomia local, da indústria, do governo e da sociedade civil, foi criado pela filial brasileira da Swissnex. Focado em apoiar atores interessados em intercâmbios inovadores além das fronteiras, a Swissnex oferece uma plataforma para conexões e colaboração. Essa iniciativa reflete o esforço da Confederação em se engajar com novas abordagens para o mundo dos negócios. Junto com a Professora Vanessa Boanada e a Latin America Leading House da Universidade de St. Gallen, a Swissnex estruturou uma experiência educacional voltada para empreendedores suíços que desejam – ou já estão – atuando na região. O objetivo era repensar os negócios a partir da base, para fortalecer os pilares da socio-bioeconomia amazônica.
Durante essa jornada entre o rio e a floresta, os participantes interagiram com a comunidade local, trocando experiências sobre negócios e sustentabilidade por meio de visitas a plantações de cacau, além de instituições de pesquisa e órgãos governamentais. Essas interações estimularam discussões entre os empreendedores e os moradores locais sobre o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação da socio-bioeconomia. Estudantes de mestrado da Universidade de St. Gallen também participaram como apoio acadêmico e de pesquisa, evidenciando a interdisciplinaridade e a colaboração educacional do programa. Os interessados poderão se inscrever para a edição do próximo ano, com todos os custos cobertos pela Swissnex e os seus parceiros ao longo do programa.
A principal lição é que não existe saúde planetária e sustentabilidade ambiental sem considerar o elemento humano.
Esse é o principal insight que a Professora Vanessa Boanada, da Universidade de St. Gallen (HSG), deseja que os alunos levem do curso “Amazon NexBio – Empreendedorismo e Socio-Bioeconomia na Amazônia”, ministrado durante o recesso acadêmico do outono de 2024.
Da Amazônia para o campus da HSG
Quando começou a lecionar esse curso, a professora logo percebeu o contraste entre o conteúdo sobre o clima tropical e a realidade fria da Suíça. “Só se compreende os desafios reais do desenvolvimento e dos negócios na Amazônia quando se está lá, vivenciando as grandes distâncias e as dificuldades enfrentadas pela população local.” Com financiamento, ela transformou o curso em uma experiência imersiva, levando os alunos para fora da sala de aula e para dentro da floresta amazônica. A vivência no campo e o contato direto com empreendedores locais contribuíram para uma compreensão mais profunda dos desafios da região. Infelizmente, após alguns anos de sucesso, os efeitos das mudanças climáticas inviabilizaram a continuidade do curso nesse formato. As comunidades envolvidas tornaram-se inacessíveis, isoladas durante a estação seca. Foi nesse contexto que a Swissnex Brasil entrou em cena.
Para dar continuidade ao sucesso do programa nexBio Amazônia, a Professora Boanada desenhou o currículo do curso subsequente. A nova abordagem prática proporcionou a 24 estudantes de mestrado uma visão aprofundada sobre a rica cultura, economia e tradições amazônicas, a partir da perspectiva dos atores e tomadores de decisão locais. O objetivo era que os alunos conhecessem melhor a realidade do Pará – um estado quase 30 vezes maior que a Suíça – e seus desafios, por meio de projetos interativos que trouxessem os produtos do programa para a sala de aula.
Os estudantes trabalharam em equipe para desenvolver apresentações sobre os principais fatores que impulsionam o desmatamento e a degradação da Amazônia. Além disso, interagiram com startups participantes do projeto para entender melhor suas experiências e perspectivas de negócios. Por fim, desenvolveram um projeto de consultoria real, com o objetivo de apoiar essas startups em seus empreendimentos na região. Para além dos resultados puramente comerciais, o propósito da atividade era incorporar as lições do curso em uma abordagem empresarial culturalmente consciente.
A Professora Boanada destaca como empreendedores indígenas e locais frequentemente não são reconhecidos como parceiros legítimos de negócios. No entanto, as startups selecionadas para o projeto rompem com essa visão ao integrar ativamente os conhecimentos indígenas em suas operações.
Matthias König, fundador da Foodflows e participante da primeira edição do nexBio, valoriza a dinâmica entre Europa e Brasil no apoio a iniciativas empresariais sustentáveis. O projeto e a interação com os estudantes contribuirão para a estratégia central de marca de sua startup. O objetivo é levar os produtos do nexBio para os mercados europeus. A Foodflows busca aumentar a conscientização dos consumidores sobre os produtos das cadeias alimentares, reduzindo a “anônima e complexa relação que as pessoas têm com os alimentos que compram”. Ele acredita que, ao trabalhar com empreendedores indígenas e desenvolver produtos alinhados a esse conhecimento, os consumidores terão uma maior consciência sobre a produção de alimentos e a diversidade de bens disponíveis.
Perspectiva estudante
A colaboração com startups foi um dos pontos altos do curso para Maximilian, estudante de General Management. Trabalhar diretamente com os empreendedores e conhecer as pessoas envolvidas no projeto permitiu que ele se conectasse mais profundamente com o tema. Ele adquiriu uma compreensão mais ampla dos desafios enfrentados pelos negócios na região e se sentiu motivado a ajudá-los a buscar soluções sustentáveis.
Orion, aluno de mestrado em Strategy and International Management, já havia viajado para a Amazônia anteriormente para implementar o conceito de economia circular em um projeto local. Essa foi sua primeira experiência no Brasil, onde ele aprendeu sobre a complexa interconexão de questões sociais, econômicas, ambientais e políticas da região. Por isso, ficou animado em participar de um curso da HSG que abordava essas temáticas. Ele apreciou a oportunidade de aplicar seu conhecimento recém-adquirido sobre os desafios amazônicos em situações práticas, ajudando a impulsionar iniciativas empresariais inovadoras na região.
A ênfase da professora em uma abordagem centrada no ser humano, desafiando visões eurocêntricas sobre bioeconomia e negócios, ajudou Orion a perceber como a atual forma de fazer negócios, baseada na solução de problemas isolados, precisa ser transformada em uma estratégia mais abrangente, focada em soluções desenvolvidas de baixo para cima. Esse ponto se tornou ainda mais significativo para ele ao perceber que a conservação da floresta em pé só é possível quando as comunidades indígenas, que há séculos cuidam dela, são apoiadas através de uma socio-bioeconomia sustentável. Da mesma forma, Maximilian entendeu que "se o foco estiver apenas no impacto climático, perde-se uma enorme oportunidade de impacto social".
Essa perspectiva está alinhada com o principal ensinamento que a Professora Boanada deseja que os alunos levem consigo: negócios sustentáveis na Amazônia devem priorizar as pessoas que fazem parte desse ecossistema. Reorientar o sistema para um modelo mais humano garantirá que as empresas sigam na direção certa, promovendo o empoderamento das comunidades locais e aumentando a conscientização global.
