nexBio Amazônia: Empreendedores na Floresta Amazônica

No meio do verão de 2024, um grupo de quatorze startups, reunindo especialistas brasileiros e suíços, percorreu a região do Pará, no norte do Brasil. Durante dez dias de imersão e conexões com a comunidade local, os participantes adquiriram valiosos insights sobre a biodiversidade, a bioeconomia e as pessoas da região.

– Por Kenza Lavallard Fadlane, estudante na Universidade de St. Gallen em Assuntos Internacionais e Governança

Este programa, que reuniu especialistas da academia, da bioeconomia local, da indústria, do governo e da sociedade civil, foi criado pela filial brasileira da Swissnex. Focado em apoiar atores interessados em intercâmbios inovadores além das fronteiras, a Swissnex oferece uma plataforma para conexões e colaboração. Essa iniciativa reflete o esforço da Confederação em se engajar com novas abordagens para o mundo dos negócios. Junto com a Professora Vanessa Boanada e a Latin America Leading House da Universidade de St. Gallen, a Swissnex estruturou uma experiência educacional voltada para empreendedores suíços que desejam – ou já estão – atuando na região. O objetivo era repensar os negócios a partir da base, para fortalecer os pilares da socio-bioeconomia amazônica.

Durante essa jornada entre o rio e a floresta, os participantes interagiram com a comunidade local, trocando experiências sobre negócios e sustentabilidade por meio de visitas a plantações de cacau, além de instituições de pesquisa e órgãos governamentais. Essas interações estimularam discussões entre os empreendedores e os moradores locais sobre o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação da socio-bioeconomia. Estudantes de mestrado da Universidade de St. Gallen também participaram como apoio acadêmico e de pesquisa, evidenciando a interdisciplinaridade e a colaboração educacional do programa. Os interessados poderão se inscrever para a edição do próximo ano, com todos os custos cobertos pela Swissnex e os seus parceiros ao longo do programa.

A principal lição é que não existe saúde planetária e sustentabilidade ambiental sem considerar o elemento humano.

Esse é o principal insight que a Professora Vanessa Boanada, da Universidade de St. Gallen (HSG), deseja que os alunos levem do curso “Amazon NexBio – Empreendedorismo e Socio-Bioeconomia na Amazônia”, ministrado durante o recesso acadêmico do outono de 2024.

Da Amazônia para o campus da HSG

Quando começou a lecionar esse curso, a professora logo percebeu o contraste entre o conteúdo sobre o clima tropical e a realidade fria da Suíça. “Só se compreende os desafios reais do desenvolvimento e dos negócios na Amazônia quando se está lá, vivenciando as grandes distâncias e as dificuldades enfrentadas pela população local.” Com financiamento, ela transformou o curso em uma experiência imersiva, levando os alunos para fora da sala de aula e para dentro da floresta amazônica. A vivência no campo e o contato direto com empreendedores locais contribuíram para uma compreensão mais profunda dos desafios da região. Infelizmente, após alguns anos de sucesso, os efeitos das mudanças climáticas inviabilizaram a continuidade do curso nesse formato. As comunidades envolvidas tornaram-se inacessíveis, isoladas durante a estação seca. Foi nesse contexto que a Swissnex Brasil entrou em cena.

Para dar continuidade ao sucesso do programa nexBio Amazônia, a Professora Boanada desenhou o currículo do curso subsequente. A nova abordagem prática proporcionou a 24 estudantes de mestrado uma visão aprofundada sobre a rica cultura, economia e tradições amazônicas, a partir da perspectiva dos atores e tomadores de decisão locais. O objetivo era que os alunos conhecessem melhor a realidade do Pará – um estado quase 30 vezes maior que a Suíça – e seus desafios, por meio de projetos interativos que trouxessem os produtos do programa para a sala de aula.

Os estudantes trabalharam em equipe para desenvolver apresentações sobre os principais fatores que impulsionam o desmatamento e a degradação da Amazônia. Além disso, interagiram com startups participantes do projeto para entender melhor suas experiências e perspectivas de negócios. Por fim, desenvolveram um projeto de consultoria real, com o objetivo de apoiar essas startups em seus empreendimentos na região. Para além dos resultados puramente comerciais, o propósito da atividade era incorporar as lições do curso em uma abordagem empresarial culturalmente consciente.

A Professora Boanada destaca como empreendedores indígenas e locais frequentemente não são reconhecidos como parceiros legítimos de negócios. No entanto, as startups selecionadas para o projeto rompem com essa visão ao integrar ativamente os conhecimentos indígenas em suas operações.

Matthias König, fundador da Foodflows e participante da primeira edição do nexBio, valoriza a dinâmica entre Europa e Brasil no apoio a iniciativas empresariais sustentáveis. O projeto e a interação com os estudantes contribuirão para a estratégia central de marca de sua startup. O objetivo é levar os produtos do nexBio para os mercados europeus. A Foodflows busca aumentar a conscientização dos consumidores sobre os produtos das cadeias alimentares, reduzindo a “anônima e complexa relação que as pessoas têm com os alimentos que compram”. Ele acredita que, ao trabalhar com empreendedores indígenas e desenvolver produtos alinhados a esse conhecimento, os consumidores terão uma maior consciência sobre a produção de alimentos e a diversidade de bens disponíveis.