Photo by Rodrigo Valle

Conhecendo o reino Fungi

Após duas semanas de aprendizado intensivo conectando a floresta amazônica e a cidade de São Paulo, o programa de pesquisa Fungi Cosmology chegou ao fim. Gabriela Devaud, nossa Arts & Science Program Manager, compartilhou um pouco dessa experiência incrível através de sua perspectiva enquanto acompanhava o grupo transdisciplinar de artistas, cientistas e curadores do Brasil, Chile e Suíça.

O Projeto

O objetivo do projeto Fungi Cosmology é permitir uma colaboração instigante e fomentar a inovação interdisciplinar. O projeto de pesquisa envolve expedições, palestras, workshops, apresentações e seminários. Trata-se de um programa de pesquisa territorial entre arte e ciência, pesquisando Manaus, Tierra del Fuego e os Alpes suíços.

O primeiro destino da pesquisa de campo foi o Brasil. Os participantes visitaram a Amazônia, com uma visita de campo à cidade de Manaus, Reservas Ecológicas e Rio Cuieiras, encerrando a fase brasileira da aventura com uma primeira aparição pública em São Paulo. Este diversificado grupo de artistas, cientistas e curadores agora unidos no intercâmbio de conhecimento para construir metodologias e fortalecer processos, estudos e possíveis descobertas para divulgar a importância do reino dos fungos e sua relevância para o futuro do planeta.

O Programa é uma co-criação do Labverde (Amazônia) e Casa-Museu Alberto Baeriswyl (Patagônia). Foi criado com FoodCulture days e o programa Artists in Labs da Universidade de Artes de Zurique (ZHdK), e em colaboração  com Pro-Helvetia e Swissnex no Brasil, e com parceria do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Swiss Federal Institute for Forest, Snow and Landscape Research (WSL) e Magallanes University.

A história

– por Gabriela Devaud

Nossa Arts & Science Program Manager, Gabriela Devaud, compartilhou sua experiência com o grupo de Fungi Cosmology nas últimas semanas.

O começo

O primeiro encontro da equipe aconteceu em Manaus de 13 a 23 de março. Deixei o Rio de Janeiro no domingo para encontrar a equipe e levar Irene Hediger da ZHdK e Martina Peter da WSL para reuniões planejadas para os próximos dois dias. Fiquei feliz em encontrá-las pela manhã, pois elas estavam ansiosas por esta grande aventura que começaria nos dias seguintes. A ansiedade estava presente, o que logo se transformaria em uma sensação de paz depois de viver uma grande experiência.

Na segunda-feira, tivemos o prazer de ir ao Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (CENBAM) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

A Dra. Ruby Vargas-Isla apresentou sua pesquisa sobre técnicas de cultivo de cogumelos comestíveis da Amazônia. Depois disso, tivemos a sorte de nos encontrar com diferentes líderes de laboratório no INPA, que compartilharam seu trabalho e pesquisa onde já podíamos ver muitas possibilidades de parceria e conexão com a indústria dentro do Brasil.

Ju Simon e Margaux Schwab se juntaram no dia seguinte para as reuniões, e as trocas ficaram ainda mais ricas. Thiago Mota Cardoso do Laboratório de Antropologia da Vida, Ecologia e Política da Universidade Federal da Amazônia (UFAM) nos deu uma grande perspectiva sobre os hábitos agrícolas ao redor do Rio Negro, executados quase que exclusivamente por mulheres. Ele também compartilhou como os projetos podem ser vistos ou construídos para esta parte específica do mundo e como global e localmente podem ser encarados de maneira diferente.

José Ignacio Gomez Corte do Instituto Socioambiental (ISA), Conselheiro de Produtos Florestais para as comunidades Yanomami, nos deu um exemplo prático de projetos com Yanomamis que garantem um retorno sustentável e econômico para as comunidades.

Após estes dois primeiros dias de introdução à pesquisa de fungos no INPA, fiquei ainda mais curiosa sobre este novo mundo que seria aberto para nós durante o projeto.

Jantar de boas-vindas aos participantes do Lab Verde 2023 no Restaurante Caxiri em Manaus. Artistas, pesquisadores cientistas foram recebidos pela equipe da Swissnex e do Lab Verde em uma noite de gastronomia amazônica (Foto: Alberto César Araújo/Olha Já)

À noite, todos os parceiros do projeto e partes envolvidas estavam no restaurante Caxiri para se conhecerem e lançarmos a primeira fase do projeto.

Mulheres da associação “Boca da Mata” prepararam uma degustação de frutas e vegetais da floresta e um jantar fantástico com cogumelos e plantas da Amazônia. A vitalidade desta floresta foi perfeitamente traduzida em cinco pratos de gostos deliciosos, cada um deles homenageando comunidades indígenas específicas.

A “Boca da Mata” é uma organização do parque tribal, uma comunidade em Manaus onde muitos indígenas vivem e dependem da cidade. Eles servem comida tradicional e servem pratos para a comunidade. Trabalhar com cogumelos é uma alternativa essencial à mineração ilegal para os jovens indígenas.

Labverde, Cab-Patagônia, Pro Helvetia, Swissnex no Brasil, INPA (MCTI), e todos os parceiros do projeto deram as boas vindas a todos ao projeto!

A imersão

Começamos na quarta-feira com a Dra. Noemia Ishikawa, parte da equipe local para a viagem de campo e pesquisadora do INPA, explicando os cogumelos comestíveis da Amazônia e as descobertas do laboratório nos últimos anos. Após uma refeição típica indígena em um restaurante local, participamos da palestra de Charles Clement sobre a história da Amazônia. Falamos sobre como os humanos domesticaram a floresta ao seu redor, como isso afeta a biodiversidade, e como a linguagem pode afetar a natureza. Foi, para mim, um momento muito envolvente e um mergulho no mundo dos fungos e suas conexões.

No dia seguinte, a equipe embarcou no barco Vitória Amazônica, onde passaram uma semana pesquisando a subida do rio Cuieiras. Tive a oportunidade de passar o primeiro dia com eles conhecendo o lugar onde o Rio Negro encontra o Rio Solimões e depois fluem juntos como Amazonas até chegarem ao Oceano Atlântico. Passamos pelo igarapé e observamos a abundância da floresta. Mais tarde, tivemos a oportunidade de nadar no rio e nos sentimos energizados.

As descobertas

Ser um grupo transdisciplinar significa experimentar o conhecimento de diferentes perspectivas, de modo que o grupo passou uma semana inteira pesquisando outras áreas, aprendendo dentro da especialização de cada colega de equipe, compartilhando visões e criando conexões autênticas.

Eles organizaram um experimento para ver a diferença entre a poluição do ar na cidade de Manaus e a floresta, preparando dois reservatórios, cada um deles aberto por alguns minutos para pegar os esporos do ar, um na cidade e o outro na floresta. O resultado foi muito mais vida criada no que foi aberto na floresta, com infinitamente menos poeira no ar.

Eles tiveram a oportunidade de fazer uma caminhada de duas horas na floresta, onde encontraram 103 espécies diferentes de Fungos, grandes, pequenos, coloridos, invisíveis, malcheirosos, saborosos, macios, nojentos e bioluminescentes.

Margaux Schab, do FoodCulture Days, compartilhou sua experiência: “O projeto sugere uma metodologia primária para se conectar através da coexistência física no campo: procurar um ao outro, reunir-se, sentir e compartilhar, e reunir-se com pesquisadores de cada território. Aproveitando atividades artísticas e extra artísticas, práticas científicas, exploratórias e experimentais, criando espaços de reflexão, estudo, amostragem e provocação de conversas entre disciplinas e conversas casuais em contextos cotidianos. Com todas estas formas e suas diversidades, estimulamos a agência em direção ao projeto para ativar, propagar, esporular e se envolver em um processo vivo – como fungos”.

A celebração

Após esta semana imersiva, a Swissnex no Brasil e o Labverde deram as boas-vindas à equipe e selecionaram convidados da cena artística, tecnológica e de inovação de São Paulo para um evento de encerramento na cidade. Esta experiência de pesquisa na floresta teve um impacto notável no grupo.

Esta primeira aparição pública permitiu que os curadores, artistas e cientistas compartilhassem suas experiências e insights sobre a residência enquanto degustavam arte alimentar criada por Murilo Selva, nosso chef para a noite. Experimentar cogumelos através de nosso sistema digestivo foi uma investigação sensorial dos enredos entre os alimentos, corpos e o bioma amazônico.

O evento possibilitou grandes conexões, e a noite sensorial uniu este grupo transdisciplinar. Profissionais de diferentes especialidades e campos descobriram como os estudos transdisciplinares afetam a forma como eles encaram a pesquisa e como isto pode ser positivo e abrir novas possibilidades. A noite foi rica em conexões das artes à ciência e negócios, todos interessados em descobrir mais sobre a forma como os fungos conectam a natureza da qual todos nós fazemos parte.

Photo by Carol Godefroid

A primeira fase deste projeto muito envolvente chegou ao fim. Ainda assim, todos estão ansiosos para o final do ano, quando a segunda parte acontecerá na Patagônia, Chile, antes de terminar na Suíça no próximo ano.